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09/06/2023

Secagem ao sol e tingimento manual: marca investe em moda mais gentil com o planeta

Os irmãos Thatiana e Bruno Schott, sócios da Zsolt - marca de slow fashion conhecida pelo reaproveitamento têxtil e estamparia feita à mão -, apostam em iniciativas sustentáveis, como o tingimento natural 'um a um'

 

A transformação do que poderia ser considerado lixo em peças de design sustentáveis, com foco em durabilidade, é o princípio da Zsolt - marca de slow fashion conhecida por seu reaproveitamento têxtil (quase 100% dos tecidos são reutilizados) e estamparia feita à mão. Comandada pelos Thatiana e Bruno Schott, a empresa aposta em uma série de práticas sustentáveis, como a secagem ao sol e tingimento manual, em busca de uma moda mais gentil com o planeta.

“Com o descarte de roupas há o aumento da emissão de gases e do efeito estufa; tem a liberação de microfibras sintéticas nos oceanos, sem contar a poluição do solo a partir do uso de pesticidas no plantio de fibras naturais”, explica Bruno, à Marie Claire.

A Zsolt sempre trabalhou com a estamparia “um a um” - cada peça é feita de uma vez -, com técnicas de tingimento manual e natural, possíveis graças ao auxílio de instrumentos e elementos como pincéis, rolinhos, elásticos, borrifadores, ceras de abelha, fogo e água.

As roupas são secadas ao sol na laje do ateliê em Nova Friburgo (RJ) – sem consumo de energia elétrica. Atualmente, a dupla estuda possibilidades de reaproveitar toda a água envolvida no processo. Um protótipo é montado, em parceria com o Sebrae, para estruturar o plano.

 

Técnica de tingimento natural desenvolvida pelos irmãos Thatiana e Bruno Schott (Foto: Ubiratan Leandro)

 

 

Os fios de algodão utilizados pela marca são certificados, produzidos no Brasil, e os tingimentos têm a certificação colourtex, que segue o cumprimento da legislação ambiental vigente no país. A marca também faz parte da Sou de Algodão, associação que une diferentes agentes da cadeia produtiva de moda e estabelece preceitos em prol da sustentabilidade e consumo consciente.

As peças têm modelagem normalmente ampla e seguem tons característicos de processos de tingimento manual, como os terrosos. Apesar de haver distinção binária de gênero, atendem diferentes corpos.

 

Fundação sustentável e adaptável

 

Com a pandemia, o processo de tingimento da marca, que garantia singularidade à cada item, precisou ser alterado. A reorganização fez com que os pontos físicos fossem fechados, o negócio digitalizado e o que era único, replicado, mas sem deixar de lado a essência do feito à mão.

“Foi um desafio muito grande. Quando fomos trabalhar para o online, perdemos essa liberdade intuitiva. A gente precisou começar a fazer foto, ‘lacrar’ o padrão de estampa e repetir. Até então não fazíamos assim, mas de uma maneira mais intuitiva”, explica Bruno Schott.

 

Detalhe da loja na Galeria Ipanema 2000 (Foto: Divulgação)

 

 

O processo operacional precisou seguir um formato mais convencional, deu certo e agora, com o cenário pandêmico dando gradativos sinais de enfraquecimento, o ponto físico é reinaugurado.

Os sócios destacam que ter uma loja própria, ao invés de se basear em multimarcas, provê uma redução de danos ambientais. “Enquanto estávamos muito dispersos em diferentes lojas, o impacto com logística, por exemplo, era muito maior”, afirma Thatiana sobre o espaço, com mobiliário totalmente reaproveitado.

“Além de que, agora, conseguimos mostrar a nossa oferta como sempre quisemos, com a nossa linha casa, por exemplo, que antes não tinha um local de exposição”, complementa Bruno.

 

Coisa de família

 

A Zsolt foi iniciada muito antes da primeira vez em que os irmãos testaram o tingimento manual em seu ateliê. Nascidos em São José do Ribeirão (RJ), seu pai era o dono do comércio da cidade. “Tinha roupa, açougue, loja de ração, gás. Ele prestava serviço e oferecia produtos, até parafuso”, relembra Bruno, que credita à sua herança familiar o tino comercial.

Com a separação dos pais, os dois foram morar em Nova Friburgo, também no estado do Rio de Janeiro. Ali, Thatiana e a mãe começaram a empreender com lingeries, no atacado. Bruno estudou publicidade, mas o foco sempre esteve na moda. Os irmãos chegaram a abrir uma confecção de cuecas, com 35 costureiras.

“Eu descobri minha paixão pelo chão de fábrica, era um lugar mágico onde a gente pensava uma coisa, executava e aquilo passava a existir”, relembra. “Só que tinha as complexidades de uma confecção de carregação (muitas peças e baixo custo) e o lado da criação, que sempre ficava de lado.”

 

As peças da marca têm, normalmente, modelagem ampla (Foto: Ubiratan Leandro)

 

 

Após um período de estudo, Bruno propôs à irmã um novo negócio. Nessa época, ele havia passado por uma descoberta espiritual e daí vem a importância do conceito japonês wabi-sabi ("quietude" e "simplicidade"), relacionado às doutrinas do zen budismo, presente na alma do negócio; predileção por atemporalidade, "calma" no processo e sustentabilidade.

“Quando sentamos para definir a empresa, demos um passo para trás e pensamos: ‘Ok, vamos empreender, trabalhar, mas o que entregaremos para a comunidade?’”, revela Thatiana Schott. “A gente veio genuinamente desde o início pensando como seria ter uma empresa sustentável e entendendo as variações do clima na nossa produção, já que precisamos diretamente do sol, dentre outros elementos.”

A empresa cresceu e conta com sete funcionários. Entretanto, por conta do forte histórico comercial da família, os irmãos sempre ouviram que “fazer de um a um”, ainda mais em moldes sustentáveis, não daria pé. 10 anos de pesquisa e vendas, com a inauguração de uma nova loja, parecem mostrar o contrário.

 

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